Por uma incrível coincidência, estava lendo uma versão preliminar do artigo de Franklin Serrano e Ricardo Summa, que me foi enviada pelos autores já há alguns meses, quando vejo no twitter que ele acaba de ser disponibilizado na página do CEPR. Aproveito então para fazer alguns breves comentários, visando divulgar este excelente trabalho. Indico também o link para a versão em português, disponível na página do Observatório da Economia Global do CECON da UNICAMP.
Em termos gerais, o artigo mostra que as melhores condições macroeconômicas (em termos de inflação, crescimento e aspectos distributivos) a partir de meados dos anos 2000 no Brasil derivam de uma combinação entre significativas mudanças nas condições externas e, após alguma hesitação, mudanças mais pontuais na orientação da política econômica doméstica. O artigo é muito rico em dados e interpretações. As mudanças das condições externas são mais conhecidas, de modo que concentro minhas observações na avaliação da orientação da política econômica doméstica. No que diz respeito à contenção da inflação, os autores mencionam avanços entre 2004 e 2006 em direção à redução do grau de indexação dos preços monitorados ao IGP-M. Apontam também o importante papel da Petrobrás em manter relativa estabilidade dos preços dos combustíveis diante das elevações do preço do petróleo nos mercados internacionais. Vale lembrar que a interpretação dos autores está baseada essencialmente na idéia de que as pressões inflacionárias são basicamente de custos, e não de demanda, de modo que a trajetória do câmbio nominal tem um papel central na determinação da taxa de inflação, conforme já discutido neste blog em outra oportunidade. No que diz respeito ao crescimento econômico, os autores observam avanços na orientação da política fiscal que, mesmo com a manutenção do superávit primário, passou a exercer um impacto positivo sobre a demanda agregada a partir de 2006, aproveitando as novas condições externas favoráveis. A nova orientação permitiu inclusive, depois de alguma hesitação, uma resposta contra-cíclica à crise mundial de 2008. A melhora dos indicadores distributivos é associada de modo bastante direto à melhora das condições internacionais de comércio e finanças, na medida em que estaria relacionada essencialmente com a apreciação cambial e com as menores taxas reais de juros. No que diz respeito às tendências futuras, os autores indicam riscos para a continuidade destes, devido ao papel essencial que exerce a apreciação da taxa de câmbio no controle da inflação e tendo em vista o impacto que isto tem sobre a competitividade industrial. A deterioração das transações correntes e a penetração de importações em substituição à produção doméstica de insumos podem levar ao retorno da restrição externa e da dependência de fluxos de capital de curto prazo. Com respeito às alternativas de política para enfrentar estes riscos, aponta-se a necessidade de avançar ainda mais na desindexação das tarifas de serviços públicos privatizados, na redução seletiva da taxação sobre bens importados considerados básicos e no aumento seletivo da carga de impostos sobre as exportações de commodities. Esta última medida ajudaria e prevenir que uma futura desvalorização do câmbio aumentasse ainda mais a lucratividade do setor exportador de commodities, procurando reverter o movimento de especialização da pauta exportadora em curso.
Em termos gerais, o artigo mostra que as melhores condições macroeconômicas (em termos de inflação, crescimento e aspectos distributivos) a partir de meados dos anos 2000 no Brasil derivam de uma combinação entre significativas mudanças nas condições externas e, após alguma hesitação, mudanças mais pontuais na orientação da política econômica doméstica. O artigo é muito rico em dados e interpretações. As mudanças das condições externas são mais conhecidas, de modo que concentro minhas observações na avaliação da orientação da política econômica doméstica. No que diz respeito à contenção da inflação, os autores mencionam avanços entre 2004 e 2006 em direção à redução do grau de indexação dos preços monitorados ao IGP-M. Apontam também o importante papel da Petrobrás em manter relativa estabilidade dos preços dos combustíveis diante das elevações do preço do petróleo nos mercados internacionais. Vale lembrar que a interpretação dos autores está baseada essencialmente na idéia de que as pressões inflacionárias são basicamente de custos, e não de demanda, de modo que a trajetória do câmbio nominal tem um papel central na determinação da taxa de inflação, conforme já discutido neste blog em outra oportunidade. No que diz respeito ao crescimento econômico, os autores observam avanços na orientação da política fiscal que, mesmo com a manutenção do superávit primário, passou a exercer um impacto positivo sobre a demanda agregada a partir de 2006, aproveitando as novas condições externas favoráveis. A nova orientação permitiu inclusive, depois de alguma hesitação, uma resposta contra-cíclica à crise mundial de 2008. A melhora dos indicadores distributivos é associada de modo bastante direto à melhora das condições internacionais de comércio e finanças, na medida em que estaria relacionada essencialmente com a apreciação cambial e com as menores taxas reais de juros. No que diz respeito às tendências futuras, os autores indicam riscos para a continuidade destes, devido ao papel essencial que exerce a apreciação da taxa de câmbio no controle da inflação e tendo em vista o impacto que isto tem sobre a competitividade industrial. A deterioração das transações correntes e a penetração de importações em substituição à produção doméstica de insumos podem levar ao retorno da restrição externa e da dependência de fluxos de capital de curto prazo. Com respeito às alternativas de política para enfrentar estes riscos, aponta-se a necessidade de avançar ainda mais na desindexação das tarifas de serviços públicos privatizados, na redução seletiva da taxação sobre bens importados considerados básicos e no aumento seletivo da carga de impostos sobre as exportações de commodities. Esta última medida ajudaria e prevenir que uma futura desvalorização do câmbio aumentasse ainda mais a lucratividade do setor exportador de commodities, procurando reverter o movimento de especialização da pauta exportadora em curso.
Artigo do Mark Weisbrot (do CEPR) na Folha de São Paulo comentando o texto de Serrano & Summa: http://www.cepr.net/index.php/other-languages/portuguese-op-eds/longo-caminho-a-percorrer
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