A criação deste blog teve por objetivo divulgar o trabalho do Núcleo de Estudos de Política Econômica (NEPE) da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. As atividades do NEPE foram encerradas oficialmente em abril de 2018, por força de decreto do governo estadual do Rio Grande do Sul. As opiniões aqui expostas não refletem quaisquer posições oficiais desta instituição ou de qualquer outra, sendo de responsabilidade exclusiva do autor do blog. Neste momento o objetivo é contribuir para a preservação do patrimônio imaterial da FEE, bem como divulgar e avaliar criticamente as análises econômicas realizadas no Rio Grande do Sul.

8 de set. de 2011

Mudança de rumo?

De fato, a decisão do BC de reduzir a taxa básica de juros em meio ponto contrariou (pela primeira vez em anos de funcionamento do regime de metas de inflação) as expectativas do mercado. A aposta geral era de manutenção do nível da taxa de juros, tendo havido inclusive dois votos no COPOM a favor desta opção. Cinco votos foram favoráveis à redução de meio ponto. Segundo as informações disponíveis, a reunião teria sido uma das mais longas já realizadas sob o atual regime. A divisão dos votos e as quatro horas de discussão parecem de fato indicar, agora sim, que algo pode estar mudando.

O contra-ataque via imprensa foi imediato. Os críticos mais incisivos acreditam que com esta decisão o BC jogou a meta de inflação para o alto, ou seja, estaria dando uma demonstração de que já não se preocupa mais com o controle da inflação. Outros afirmam que o BC cedeu a pressões da Presidência da República e Ministério da Fazendo, tendo passado a preocupar-se não só com a inflação mas também com o crescimento do PIB. Recomendo esta interessante análise a respeito da cobertura da imprensa a respeito da decisão. Reproduzo um trecho abaixo:

"Este é, exatamente, o ponto central da polêmica: afinal, a serviço de quem estão os articulistas, comentaristas, analistas, colunistas e demais proprietários de fatias da mídia que, em coro, trataram de desmoralizar o Banco Central? Que interesses representam, e por que motivo contam com tanto espaço nos jornais? Além do evidente complexo de vira-latas, não há como ignorar que o insistente viés político que contamina o noticiário econômico pode estar a serviço de algum interesse nebuloso" (Luciano Martins Costa no site do "Observatório da Imprensa")

Buscando analisar objetivamente a questão, penso que é preciso esperar para ver se de reduções futuras da taxa básica de juros serão significativas o bastante para diminuir substancialmente e permanentemente o diferencial entre a taxa doméstica e as taxas internacionais. Se isto ocorrer, junto com os outros mecanismos de taxação e controle da entrada de capitais já em implantação, então poderemos ter uma contenção mais efetiva da tendência de valorização do câmbio nominal. 

Ocorre que, a depender da evolução dos preços das commodities internacionais, isto poderá sim ampliar as pressões inflacionárias domésticas. Neste caso, outras medidas anti-inflacionárias como a desindexação de preços administrados, teriam de ser adotadas. Não acredito que uma política fiscal mais restritiva possa cumprir esse papel, pois entendo que as pressões de custos são mais importantes do que as de demanda. Por outro lado, e este é o lado positivo, uma maior resistência à tendência de valorização cambial poderá interromper ou ao menos amenizar as tendências de reprimarização das exportações e de redução das parcelas da indústria no emprego e na produção.