De fato, a decisão do BC de reduzir a taxa básica de juros em meio ponto contrariou (pela primeira vez em anos de funcionamento do regime de metas de inflação) as expectativas do mercado. A aposta geral era de manutenção do nível da taxa de juros, tendo havido inclusive dois votos no COPOM a favor desta opção. Cinco votos foram favoráveis à redução de meio ponto. Segundo as informações disponíveis, a reunião teria sido uma das mais longas já realizadas sob o atual regime. A divisão dos votos e as quatro horas de discussão parecem de fato indicar, agora sim, que algo pode estar mudando.
O contra-ataque via imprensa foi imediato. Os críticos mais incisivos acreditam que com esta decisão o BC jogou a meta de inflação para o alto, ou seja, estaria dando uma demonstração de que já não se preocupa mais com o controle da inflação. Outros afirmam que o BC cedeu a pressões da Presidência da República e Ministério da Fazendo, tendo passado a preocupar-se não só com a inflação mas também com o crescimento do PIB. Recomendo esta interessante análise a respeito da cobertura da imprensa a respeito da decisão. Reproduzo um trecho abaixo:
"Este é, exatamente, o ponto central da polêmica: afinal, a serviço de quem estão os articulistas, comentaristas, analistas, colunistas e demais proprietários de fatias da mídia que, em coro, trataram de desmoralizar o Banco Central? Que interesses representam, e por que motivo contam com tanto espaço nos jornais? Além do evidente complexo de vira-latas, não há como ignorar que o insistente viés político que contamina o noticiário econômico pode estar a serviço de algum interesse nebuloso" (Luciano Martins Costa no site do "Observatório da Imprensa")
Buscando analisar objetivamente a questão, penso que é preciso esperar para ver se de reduções futuras da taxa básica de juros serão significativas o bastante para diminuir substancialmente e permanentemente o diferencial entre a taxa doméstica e as taxas internacionais. Se isto ocorrer, junto com os outros mecanismos de taxação e controle da entrada de capitais já em implantação, então poderemos ter uma contenção mais efetiva da tendência de valorização do câmbio nominal.
Ocorre que, a depender da evolução dos preços das commodities internacionais, isto poderá sim ampliar as pressões inflacionárias domésticas. Neste caso, outras medidas anti-inflacionárias como a desindexação de preços administrados, teriam de ser adotadas. Não acredito que uma política fiscal mais restritiva possa cumprir esse papel, pois entendo que as pressões de custos são mais importantes do que as de demanda. Por outro lado, e este é o lado positivo, uma maior resistência à tendência de valorização cambial poderá interromper ou ao menos amenizar as tendências de reprimarização das exportações e de redução das parcelas da indústria no emprego e na produção.
Em tempo: em tudo que li sobre este assunto nesta semana não vi ninguém comentar (nem mesmo eu, no texto acima pois não tinha me dado conta) o fato de que o IC-Br que "exprime média mensal ponderada dos preços em reais das commodities relevantes para a dinâmica da inflação brasileira" diminuiu 10,75% entre março e agosto de 2011. O índice de commodities do FMI também registra queda de 9,54% dos preços em dólar entre abril e agosto de 2011. A prosseguir o movimento, aliviam-se certamente as pressões inflacionárias. O BC deve estar projetando que as dificuldades de crescimento dos EUA e Europa venham a derrubar ainda mais estes preços.
ResponderExcluirO que percebesse por tudo que se lê e principalmente com o que se vê (mídia), é que o governo não vai sacrificar o crescimento econômico para atingir a meta de inflação, vamos aguardar a próxima reunião do COPOM para ver o real objetivo. E se está colocando em dúvida o poder do presidente do Banco Central, quando ao seu real poder, há um movimento que diz que ele é apenas um figurante, só o tempo e seu comportamento dirá.
ResponderExcluirTiago Peretti
Tiago,
ResponderExcluirObrigado pelo seu comentário. Vc tem razão, é preciso esperar, além de e acompanhar o que os outros BCs vão fazer com suas taxas de juros, bem como a evolução dos preços das commodities, etc. abrç.
Realmente, de lá para cá ficou bem clara uma maior flexibilidade do BC com a política de metas e a taxa de câmbio nominal desvalorizou-se cerca de 30% entre agosto de 2011 e dezembro de 2012. Neste mesmo período houve queda dos preços das importações e das exportações em dólares, porém não suficiente para evitar elevação de cerca de 25% nos preços das importações em reais e de 15% nos preços das exportações em reais. Não surpreende, portanto, uma certa pressão de elevação da inflação neste momento.
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