Está disponível o segundo número do Boletim de Conjuntura Econômica do Grupo de Pesquisa de Política Econômica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Faço abaixo alguns comentários a respeito da apresentação do boletim, redigida por Leandro Fagundes, e da análise do setor externo, por Roberto Rodrigues.
Em primeiro lugar a posição dos autores converge com a que tenho procurado expor neste espaço, a respeito da continuidade da orientação conservadora do Banco Central, bem como ao efeito desta política sobre a valorização da taxa de câmbio que "deve ser explicada pela manutenção, por parte do governo brasileiro, de um grande diferencial de taxas de juros, que faz o Real se valorizar frente às principais moedas do mundo" (p. 2). Penso que os efeitos sobre as contas externas ficam explicitados pelo boletim tanto no que diz respeito às transações correntes quanto ao movimento de capitais.
No que diz respeito às transações correntes, os autores apontam que o elevado déficit de 2010 tende a ser superado em 2011, devido fundamentalmente aos resultados deficitários em serviços e rendas. O fato de que o resultado do saldo comercial seja positivo e crescente não impede os autores de perceber e apontar que "o crescimento das exportações tem sido puxado principalmente pela variação dos preços e não pela quantidade" (p. 28), enquanto que "o crescimento da quantidade importada foi superior ao crescimento dos preços" (p. 29) no primeiro trimestre de 2011. Desta dinâmica pode-se perceber a dependência que o superávit comercial brasileiro tem em relação aos movimentos dos preços internacionais, na medida em que "nossas exportações se concentram muito mais em produtos primários, ao passo que as nossas importações se concentram em produtos mais industrializados" (p. 29). O crescimento dos preços das exportações em dólar tem, portanto, sido decisivo para o saldo comercial positivo, e o efeito inflacionário deste movimento tem sido contrabalançado pela valorização do câmbio que faz com que os preços não crescam tanto em termos de moeda doméstica.
Ainda que o resultado em transações correntes seja negativo, o Brasil segue aumentando seu volume de reservas tendo um vista o elevado influxo de capitais. O boletim mostra que uma parte muito significativa deste influxo de capital se deve ao diferencial de juros. Mesmo o expressivo saldo positivo da conta investimentos diretos (US$ 27 bilhões no primeiro trimestre de 2011) deve-se em grande parte aos empréstimos intercompanhias (US$ 16 bilhões). Penso que esta lógica financeira das matrizes que tomam crédito no exterior a taxas reduzidas, concedem empréstimos a suas filiais no Brasil, e estas por sua vez tornam-se credoras a taxas elevadas, é um ponto importante que merece ser investigado. Desto modo pode-se aprofundar o debate a respeito da natureza produtiva ou financeira do "investimento direto" no Brasil. Isto porque, de modo semelhante ao que ocorria no período 1994-99, quando setores ligados ao então governo argumentavam que o financiamento com "poupança externa" não era um problema desde que a participação dos investimentos diretos fosse significativa, o mesmo argumento tem aparecido novamente. Com aquela experiência, foi possível aprender que é preciso avaliar se os investimentos diretos são capazes de contribuir ou não para a promoção de exportações a longo prazo.
Neste momento em que boa parte do influxo de capital parece estar orientado pelo diferencial de juros e que a pauta exportadora tem tendência de reprimarização, é preciso atenção redobrada para as condições das finanças internacionais, especialmente porque imagina-se que a evolução dos preços das commodities esteja influenciada por componentes esepculativos. "Embora seja improvável de ocorrer no curto prazo, uma inversão da tendência nos preços internacionais dos minérios e commodities agrícolas traria grande impacto negativo em nosso balanço de pagamentos e na renda nacional" (p. 3). De fato, mudanças nas condições internacionais em geral e, mais especificamente, na orientação da política monetária norte-americana, poderão influenciar tanto os fluxos de capitais quanto os preços das commodities. Ao invés de buscar maior proteção frente a estes eventos exógenos, a economia brasileira parece estar evoluindo para uma crescente exposição a estes riscos.
Em primeiro lugar a posição dos autores converge com a que tenho procurado expor neste espaço, a respeito da continuidade da orientação conservadora do Banco Central, bem como ao efeito desta política sobre a valorização da taxa de câmbio que "deve ser explicada pela manutenção, por parte do governo brasileiro, de um grande diferencial de taxas de juros, que faz o Real se valorizar frente às principais moedas do mundo" (p. 2). Penso que os efeitos sobre as contas externas ficam explicitados pelo boletim tanto no que diz respeito às transações correntes quanto ao movimento de capitais.
No que diz respeito às transações correntes, os autores apontam que o elevado déficit de 2010 tende a ser superado em 2011, devido fundamentalmente aos resultados deficitários em serviços e rendas. O fato de que o resultado do saldo comercial seja positivo e crescente não impede os autores de perceber e apontar que "o crescimento das exportações tem sido puxado principalmente pela variação dos preços e não pela quantidade" (p. 28), enquanto que "o crescimento da quantidade importada foi superior ao crescimento dos preços" (p. 29) no primeiro trimestre de 2011. Desta dinâmica pode-se perceber a dependência que o superávit comercial brasileiro tem em relação aos movimentos dos preços internacionais, na medida em que "nossas exportações se concentram muito mais em produtos primários, ao passo que as nossas importações se concentram em produtos mais industrializados" (p. 29). O crescimento dos preços das exportações em dólar tem, portanto, sido decisivo para o saldo comercial positivo, e o efeito inflacionário deste movimento tem sido contrabalançado pela valorização do câmbio que faz com que os preços não crescam tanto em termos de moeda doméstica.
Ainda que o resultado em transações correntes seja negativo, o Brasil segue aumentando seu volume de reservas tendo um vista o elevado influxo de capitais. O boletim mostra que uma parte muito significativa deste influxo de capital se deve ao diferencial de juros. Mesmo o expressivo saldo positivo da conta investimentos diretos (US$ 27 bilhões no primeiro trimestre de 2011) deve-se em grande parte aos empréstimos intercompanhias (US$ 16 bilhões). Penso que esta lógica financeira das matrizes que tomam crédito no exterior a taxas reduzidas, concedem empréstimos a suas filiais no Brasil, e estas por sua vez tornam-se credoras a taxas elevadas, é um ponto importante que merece ser investigado. Desto modo pode-se aprofundar o debate a respeito da natureza produtiva ou financeira do "investimento direto" no Brasil. Isto porque, de modo semelhante ao que ocorria no período 1994-99, quando setores ligados ao então governo argumentavam que o financiamento com "poupança externa" não era um problema desde que a participação dos investimentos diretos fosse significativa, o mesmo argumento tem aparecido novamente. Com aquela experiência, foi possível aprender que é preciso avaliar se os investimentos diretos são capazes de contribuir ou não para a promoção de exportações a longo prazo.
Neste momento em que boa parte do influxo de capital parece estar orientado pelo diferencial de juros e que a pauta exportadora tem tendência de reprimarização, é preciso atenção redobrada para as condições das finanças internacionais, especialmente porque imagina-se que a evolução dos preços das commodities esteja influenciada por componentes esepculativos. "Embora seja improvável de ocorrer no curto prazo, uma inversão da tendência nos preços internacionais dos minérios e commodities agrícolas traria grande impacto negativo em nosso balanço de pagamentos e na renda nacional" (p. 3). De fato, mudanças nas condições internacionais em geral e, mais especificamente, na orientação da política monetária norte-americana, poderão influenciar tanto os fluxos de capitais quanto os preços das commodities. Ao invés de buscar maior proteção frente a estes eventos exógenos, a economia brasileira parece estar evoluindo para uma crescente exposição a estes riscos.
O nosso balanço de pagamentos tem sido de fato um preocupante assunto. No ano passado o déficit em transações correntes foi (se eu não estou enganado) o maior de nossa história e pouca atenção tem sido dada a este fato. Em contrapartida a conta movimento de capital tem apresentado valores superavitários puxados principalmente pelo diferencial da taxa de juros. Algumas perguntas precisam ser colocadas:
ResponderExcluirAté quando os preços das commodities vão continuar segurando a nossa balança comercial?
Até quando a taxa de juros internacional vai continuar baixa?
Realmente, o déficit em TC de US$ 47 bi registrado em 2010 é o maior de todos, seguido pelo registrado em 1998, que foi de US$ 33 bi. Apesar disso, penso que a situação atual ainda não é tão crítica quanto a de 1998 porque naquela ocasião a razão entre o déficit TC e as exportações em termos anuais era de 65,37%. Em 2010 a mesma razão foi de 25,53%, portanto ainda está longe, mas de qualquer modo está subindo (em 2008 foi 14,24% e em 2009 foi 15,88%).
ResponderExcluir