Acrescentei aos links o caminho para o blog da Revista Circus, sediada em Buenos Aires. A partir destes dois links é possível acessar um considerável conjunto de boas análises heterodoxas em língua espanhola. Ainda não tive tempo de ler muita coisa mas chamo a atenção para um link que particularmente interessa para a linha de pesquisa que me propus a executar no NEPE. Nele estão disponíveis diversos trabalhos do economista argentino Marcelo Diamand, inclusive o livro "Doctrinas económicas, desarrollo e independencia: economia para las estructuras produtivas desequilibradas: caso argentino", publicado em 1973. A análise de Diamand acentua sempre a inadequação da doutrina ortodoxa para compreender os fenômenos econômicos da periferia. Estou começando a ler o livro e me parece muito bom. No primeiro capítulo Diamand anuncia seu esquema de análise do padrão stop-and-go da economia argentina como um "processo de divergência entre o crescimento do setor interno consumidor de divisas, que não contribui para produzi-las, e a estagnação relativa das exportações. Esta divergência entre o desenvolvimento interno e a capacidade de gerar divisas dá origem a uma tendência de permanente desequilíbrio do setor externo. Nas estruturas produtivas desequilibradas aparece assim uma insuficiência crônica na produção de divisas que, por seu caráter estrutural, se distingue diametralmente dos desequilíbrios transitórios da balança de pagamentos, característicos dos países industriais" (Diamand, 1973, p. 33). Em outro texto, também disponível no site da Circus, podemos encontrar uma definição sucinta para a estrutura produtiva desequilibrada. "Trata-se de uma estrutura produtiva composta por dois setores com níveis de preços diferentes: o setor primário - agropecuário em nosso caso - que trabalha a preços internacionais, e o setor industrial, que trabalha a um nível de custos e preços consideravelmente superior ao internacional. Esta configuração peculiar, não imaginada pelas gerações dedicadas à elaboração da teoria econômica que hoje se ensina nas universidades, dá lugar a um novo modelo econômico, caracterizado pela crônica limitação que o setor externo exerce sobre o crescimento econômico" (Diamand, 1972, p. 1-2). Com qualificações e adaptações, penso que esta abordagem pode ser muito útil para refletir sobre os desafios atuais do crescimento econômico brasileiro. Setores primário-exportadores de alta competitividade cujos preços estejam em alta nos mercados internacionais não são inviabilizados pelas taxas de câmbio valorizadas. Na medida, porém, em que o setor industrial não só deixa de contribuir para a obtenção de divisas mas torna-se ele mesmo um consumidor de divisas, dada a penetração de bens de capital e intermediários importados, tende a ocorrer uma deterioração das condições externas necessárias para o crescimento econômico prolongado.
A criação deste blog teve por objetivo divulgar o trabalho do Núcleo de Estudos de Política Econômica (NEPE) da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. As atividades do NEPE foram encerradas oficialmente em abril de 2018, por força de decreto do governo estadual do Rio Grande do Sul. As opiniões aqui expostas não refletem quaisquer posições oficiais desta instituição ou de qualquer outra, sendo de responsabilidade exclusiva do autor do blog. Neste momento o objetivo é contribuir para a preservação do patrimônio imaterial da FEE, bem como divulgar e avaliar criticamente as análises econômicas realizadas no Rio Grande do Sul.
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