Convencionou-se que as análises de conjuntura produzidas aqui na FEE sejam reportadas por meio de textos curtos publicados na chamada Carta de Conjuntura. Escrevi no ano passado uma breve apreciação de dois indicadores relativos à economia brasileira: a razão entre a dívida externa de curto prazo e as reservas internacionais (indicador de liquidez) e a razão entre o déficit em transações correntes e as exportações (indicador de solvência) Em termos gerais, o indicador de liquidez tem mostrado uma situação confortável no que diz respeito à possibilidade de contágio das crises financeiras internacionais sobre a economia brasileira. Por outro lado, observa-se que o ambiente de taxas nominais de câmbio em valorização associado às taxas de crescimento econômico mais elevadas registradas nos últimos anos gerou uma deterioração das condições de solvência. Do meu ponto de vista, o interesse a respeito deste último ponto cresce quando se observa que o período de deterioração das condições de solvência corresponde àquele em que parece ter retornado a tendência de redução da parcela da indústria no emprego e no valor adicionado, reportada neste trabalho anterior. Embora não cause, necessariamente, uma crise de balanço de pagamentos, uma posição de solvência em deterioração pode restabelecer os obstáculos externos ao crescimento do mercado doméstico.
Nos textos curtos da Carta de Conjuntura não é possível entrar em maiores justificativas para a escolha desses indicadores. Por esta razão acabei escrevendo este novo artigo onde busco ampliar a discussão sobre o seu significado, bem como demonstrar a sua utilidade para a análise de conjuntura. Acredito que os conceitos de liquidez externa e solvência externa são superiores, por exemplo, às idéias de "fragilidade" ou "vulnerabilidade" externas, exatamente porque mais passíveis de avaliação objetiva, por meio dos referidos indicadores.
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