A criação deste blog teve por objetivo divulgar o trabalho do Núcleo de Estudos de Política Econômica (NEPE) da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul. As atividades do NEPE foram encerradas oficialmente em abril de 2018, por força de decreto do governo estadual do Rio Grande do Sul. As opiniões aqui expostas não refletem quaisquer posições oficiais desta instituição ou de qualquer outra, sendo de responsabilidade exclusiva do autor do blog. Neste momento o objetivo é contribuir para a preservação do patrimônio imaterial da FEE, bem como divulgar e avaliar criticamente as análises econômicas realizadas no Rio Grande do Sul.

3 de fev. de 2011

Aspectos demográficos

Ocorreu na terça-feira a discussão sobre o volume II dos "25 anos de economia gaúcha". A apresentação ficou por conta do Tomás Fiori e do Vanclei Zanin. Vou retomar alguns pontos da discussão neste espaço. Observo que são as minhas opiniões, sujeitas obviamente à discussão.

Em primeiro lugar é um dado importante a considerar o fato de que, desde os anos 50, a população do Rio Grande do Sul cresce menos do que a população brasileira, e as diferenças são bastante significativas. No período 2000-2010 a população brasileira cresceu 12% e a população do Rio Grande do Sul apenas 5%. Isto é fundamental na medida em que leva a uma progressiva diferenciação da estrutura etária do Estado em relação ao Brasil.

Outro ponto que acho importante observar é que o movimento de maior elevação da taxa de urbanização mais acelerado acorreu no Rio Grande do Sul lá pelo período 1950-1980. Foi também neste período que mais cresceu a participação da região metropolitana de Porto Alegre no total da população do Estado. Além de Porto Alegre, Caxias do Sul também aparece como região de destino do fluxo migratório. Não por acaso, este é também o período de industrialização, conforme discutido com base no volume I.

Com relação a estas mudanças, penso que o volume II já começa a levantar pontos mais específicos e fundamentais, mas não ajuda o leitor a identificar com clareza os nexos econômicos do processo. Por exemplo, o processo de redução da participação do emprego agrícola ocorreu mais por expulsão da população do campo, devido à incorporação de capital e novos métodos na agricultura, ou foi motivado primordialmente pela demanda por trabalho nos setores industrial e de serviços? Claro, provavelmente as duas coisas, mas qual a influência relativa destas duas forças? A meu ver este é um importante ponto da economia do desenvolvimento, que certamente voltará a aparecer na discussão dos volumes III e IV.

O mais interessante da discussão destes textos, a meu ver, é a aplicação dos métodos e técnicas utilizados aos dados recentes, para avaliar novas e antigas questões. No período 1985-95 a taxa de urbanização cresce a ritmo parecido com a participação na renda dos setores urbanos, porém conforme observamos na discussão do volume I já não se observa o processo de aumento da parcela da indústria no valor adicionado. Já de 1995 para a frente a participação na renda dos setores urbanos estagnou mas a urbanização segue, ainda que a ritmo mais lento. A meu ver isto é parte da explicação para a degradação dos centros urbanos que ocorreu com muita força nos anos 90. Um aspecto visível foi o aumento do número de vendedores ambulantes e de outras ocupações precárias como os flanelinhas. A continuidade da migração para as cidades sem a devida contrapartida de criação de empregos formais levou necessariamente a uma maior precarização do trabalho.

São pontos a discutir. De qualquer modo, o seminário segue no dia 22 de fevereiro, com base no volume III relativo à agricultura.

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